Rugby Infantil – A importância do professor por Gabriel Colini Cenamo

18-07-2011 15:13

 Em julho de 2008, quando eu ainda era treinador da equipe juvenil do Bandeirantes R.C., fizemos uma gira para Tucumán – ARG, com um grupo de 24 jogadores com idades entre 15 e 19 anos e 1 jogador de 11 anos (Guilherme Nipper – filho da Camila, jogadora do Band). Fomos recebidos pelo clube Universitário R.C., onde nossos garotos puderam treinar e jogar com jogadores de mesma idade, representantes de um dos clubes mais tradicionais da Argentina.

Foi o meu primeiro contato com um clube onde o rugby infantil é levado a sério. Lá eles possuem em torno de 500 jogadores entre 6 e 14 anos. Para efeitos de comparação, na primeira etapa do Circuito Paulista de Rugby Infantil, organizada pelo Bandeirantes em abril de 2011, estiveram presentes cerca de 300 crianças e adolescentes, entre 8 e 15 anos de idade. O evento reuniu jogadores de 6 equipes de São Paulo, sendo considerado um marco para o desenvolvimento do rugby infantil no Brasil.

Até alguns anos atrás era muito raro encontrar jogadores de rugby no Brasil que começavam a jogar antes dos 12 anos de idade. Alguns poucos que começaram a jogar desde criança e hoje seguem jogando na categoria adulta, são jogadores de destaque da seleção brasileira como Moisés Duque e Julian Menutti.

Mas será que começar a jogar rugby quando criança é sinônimo de bons resultados no rugby de alto rendimento, ou seja, nas categorias adultas? Quais cuidados devem ser tomados? Existe uma idade ideal para começar?

Antes de responder essas perguntas, vou recorrer a literatura para um assunto um pouco mais delicado, a “especialização precoce”. Segundo Greco e Benda (1998), a fase de especialização em uma determinada modalidade esportiva deve iniciar-se aos 15-16 anos de idade. Outros autores, como Go Tani (2002) acreditam que esse período deve se dar ao final da segunda infância, ou seja, por volta dos 10-12 anos.

O principal risco associado à especialização precoce é sobrecarregar a criança tanto fisicamente quanto psicologicamente. Essa sobrecarga pode provocar lesões ou desistências ocasionadas pelo excesso de pressão por um bom rendimento esportivo, por parte de treinadores e/ou pais.

Mas voltando às perguntas, com certeza se o primeiro contato com o rugby se der ainda na infância, de certa forma isso poderá auxiliar futuramente no alto rendimento. Isso porque o conhecimento da modalidade desde cedo, e o maior contato com determinadas situações de jogo, influenciam tanto nos gestos técnicos quanto nas decisões tomadas ao longo de uma partida.

Porém, não devemos ver as crianças como “um adulto em miniatura”, cujos objetivos de êxito esportivo são iguais aos nossos. As crianças querem se divertir antes de qualquer resultado e isso sempre deve ser lembrado por quem estiver conduzindo uma atividade com essa faixa etária.

Ao planejar um treino, o professor de rugby infantil deve pensar primeiramente em dois pontos chaves: SEGURANÇA e DIVERSÃO. Um treinador capaz de construir um ambiente seguro e divertido tem grandes chances de montar uma equipe numerosa e sempre motivada para comparecer ao treino seguinte.

É importante lembrar também, que o conteúdo a ser trabalhado durante os treinos deve estar de acordo com as etapas de desenvolvimento de cada criança. Estímulos muito avançados e complexos podem ser prejudiciais para o desenvolvimento de alguns, pelo fato de gerar frustração motivada pela incapacidade de realizar o que é pedido pelo treinador. Da mesma forma, estímulos muito simples podem desmotivar crianças que estejam em uma etapa de desenvolvimento um pouco mais avançada do que outras.

Por isso, é muito importante que sejam criados grupos homogêneos, separados por faixa etária, para que os estímulos oferecidos em uma sessão de treino estejam apropriados para a maior parte do grupo. Ainda assim, ao planejar um treino, o treinador deve pensar sobre como motivar cada um de seus jogadores e como oferecer estímulos adequados para TODOS.

Se tomarmos os cuidados necessários para que as sessões de treino estejam de acordo com o desenvolvimento das crianças, particularmente não acredito que exista uma idade ideal para iniciar no rugby. Quanto antes for feito o primeiro contato com a modalidade melhor, desde que seja feito de maneira SEGURA e DIVERTIDA.

Na atual realidade do rugby brasileiro, quando iniciamos um trabalho com rugby infantil se torna difícil criar grupos homogêneos, oferecer estímulos adequados a todos e até mesmo criar um ambiente seguro para todos. Em parte isso se deve ao reduzido número de jogadores em todas as categorias, obrigando o treinador a misturar jogadores de diferentes idades. Ou mesmo pela falta de experiência dos jogadores das equipes adultas que acabam assumindo a função de treinador pela falta de outros profissionais capacitados.

Mas por tudo o que foi exposto anteriormente, considero muito importante a presença de profissionais de educação física, sejam como treinadores ou mesmo como coordenadores, em todas as atividades relacionadas ao rugby infantil. Dessa forma estaremos minimizando erros e contribuindo de maneira positiva para o crescimento do nosso esporte.

Tenho certeza que ainda seremos grandes se trabalharmos para isso, mas hoje vou finalizar essa coluna com uma reflexão que muitas vezes eu mesmo faço:

“Para tratar uma lesão procura-se um médico. Para construir um prédio procura-se um engenheiro. Por que não procurar um professor de educação física para ensinar uma modalidade esportiva às crianças?”

Gabriel Colini Cenamo

Coordenador Técnico – Projeto Bandeirantes do Rugby

Preparador Físico – Seleção Brasileira M19

Treinador – FEA RUGBY

 

Fonte: Rugby Spirit