Quem é um verdadeiro rugbier?
Eu que joguei rugby .Quanta razão!
Eu joguei cada tarde de sábado cinzento e cor de chumbo. Tardes de remédios, de hematomas, esforço e suor. Ainda sinto o cheiro do verde da grama e minha mente se perde em milhares de lembranças.
Sei que logo minhas pernas talvez não queiram... mais tantas saídas de terceira linha, apesar de minha cabeça continuar buscando a cadeira do pilar número um.
Do rugby aprendi uma breve liturgia, útil bagagem para o resto da vida cotidiana.
O terceiro tempo.
Aprendi que quinze empurram mais do que um, porque se um não empurra o resto não percebe.
Aprendi a calar, a abaixar a cabeça com respeito sem me sentir menos do que ninguém, a ser honesto, a me esvaziar para ficar cheio.
A compreender que pelo simples fato de formar em um círculo, abraçando teus companheiros, repetindo a palavra humildade, humildade uma e outra vez, você já venceu.
Independente de ficar com o placar zerado ou não.
Aprendi que os corredores são importantes. Sobre tudo quando você ganhou e você deve premiar o esforço da outra equipe.
Já joguei rugby, aprendi a aceitar sem me queixar, a não me resignar, a trabalhar para saber o que custa ganhar um metro em silêncio, e o fácil que é perder dez por não saber calar.
A respeitar as decisões de uma forma férrea, a aplaudir os erros dos meus companheiros, que também são os meus e sobre tudo a me levantar cem vezes.
Este esporte de bandidos praticado por cavalheiros me ensinou valiosas lições.
Muitas alheias e incompreendidas aos olhos dos não iniciados.
Um dia seguinte cheio de dores e roxos, feliz e realizado pela entrega, o compromisso, e muitas outras coisas que minha mãe nunca entendeu.
Saber o valor de uma tosca camiseta listrada, malha do valor e o dever.
Um terceiro tempo onde tudo que fica são anedotas, abraços, cavalheirismo, camaradagem, risos e um até a próxima.
Se você alguma vez jogou rugby sempre será membro de uma família sem fronteiras, com uma língua, um pensamento e uma visão comum.
O lugar?
Tanto faz,qualquer lugar no mundo, não haverá mais barreiras.
Ainda quando você o tenha deixado, as listras irão te perseguir, reconhecerás alguma camiseta em algum desconhecido, e se você lhe perguntar:
Você jogou rugby?
Estarás logo compartilhando uma cerveja. E talvez deixes de ser muitas outras coisas, mas sempre serás um jogador de rugby perante a vida.
Texto traduzido de Rafael Muñoz Abad Club de Rugby Universidad de La Laguna Santa Cruz de Tenerife, Espanha.
A dor.
As pessoas muitas vezes não entendem quando você tenta explicar. Muitos te olham com desprezo e até com um pouco de apreensão. Os jogadores de rugby estão acostumados a jogar sentindo dor. Alguma dor. Qualquer dor. Às vezes vejo os atletas de outros esportes , por exemplo, que - no geral e salvo honrosas exceções - não usam aditamentos para minguar suas... dores e seguir jogando. Eles, assim que doi alguma coisa, ficam assistindo o jogo na arquibancada. E nós… nós somos os inventores de milhares de vendagens e ervas medicinais para entrar em campo mesmo se estivermos às portas de um infarto.
Os dedos atados com fita adesiva é, talvez, a mais comum das ajudas. Vendas, cremes, massagens, remédios, joelheiras, cotoveleiras, proteções de coxa ou pulso ou qualquer coisa que seja azul ou preta e que pressione o local para tê-lo contido é usado para não faltar a um jogo. Nem se fale dos capacetes para esconder pontos nas sobrancelhas ou na cabeça. O jogador de rugby suporta estoicamente as dores e entra em campo para entregar mais do que teme em cada jogo, sem importar a condição física. E estamos muito orgulhosos disso.
Eu tenho cinquenta pontos na cabeça, produto de lesões no rugby (que não puderam reparar o irreparável nem melhorar nada que tenho de nascença). E meus dedos estão tortos e doloridos... e contam centenas de batalhas. Um joelho se queixa (deve ser de implicante que ele é, nada mais) e as unhas dos pés são verdadeiros nhoques duros (devido às milhares de vezes que levei um pisão nos velhos mauls). Minhas costas são mantidas por um especialista, que sempre me pede que amarre cuidadosamente os cadarços (nada de me agachar bruscamente) e ele não percebe que é a barriga que me impede de ser veloz nesse quesito.
Mas sou feliz. O rugby tem me presenteado muitos amigos, casualmente esses que estão ai quando você acredita estar sozinho e que não há ninguém e você se vira e estão eles te apoiando, te ajudando ou te alentando. O rugby também tem me presenteado milhares de recordações vividas, centenas de tardes de sol e chuva, de calor e de frio. E quase todas de lindas lembranças. E algumas viagens com seus temperos.
E mais amigos.
E mais rugby.
Rugby Brasil .
Essas mensagens mostram e descrevem o verdadeiro espírito do Rugby. O lugar onde temos amigos-irmãos, com os quais podemos contar pra tudo!
Quantos já continuaram correndo mesmo sentindo, ou melhor, não sentindo as próprias pernas?? Quantos já entraram em um ruck pra proteger seu companheiro, mesmo quando não sentiam mais seus braços fazendo força pra protegê-lo?? Quantos de vocês, jogam em equipe?? Quantos de vocês são irmaos de verdade?? Há uma frase que explica bem o que é o Rugby: “ Se o Rugby é apenas um esporte, o coração é apenas um órgão.”
Quem é um verdadeiro rugbier?
Obrigado a amiga Jaqueline do Blumenau Rugby que nos forneceu esse texto.