“A Argentina ainda vai querer jogar muitas vezes contra o Brasil no rugby”

27-04-2012 13:08

 

Confiante, animado e com vontade de ficar. Assim está Tabai Matson no fim de sua visita ao Brasil. Fijiano, mas criado em Christchurch, na Nova Zelândia, “Tabs” conheceu clubes e projetos sociais em rápida passagem pelo Brasil. O ex-jogador e atual membro da comissão técnica dos Crusaders veio preparar terreno para a chegada de dois novos neozelandeses: Brent Frew e Scott Robertson. Ambos devem comandar não apenas a seleção brasileira, mas também trabalhar em uma nova estruturação do rugby nacional.

Em entrevista ao TRY RUGBY, Matson confirma que sua primeira opção não pode vir. Tratava-se de Aaron Mauger, jogador que defendeu a Nova Zelândia no Mundial de 2007 e que também trabalha como treinador no Super Rugby. Certo de que seus novos escolhidos darão conta do recado, Tabs aposta no crescimento do esporte por aqui e está seguro de que Argentina e Brasil serão adversários parelhos no futuro. Ele mesmo conta os seus motivos.

TRY RUGBY: Você vai completar uma semana no Brasil. Teve tempo para ver, participar e vivenciar um pouco do rugby por aqui. Está feliz com o que encontrou?

TABAI MATSON: Muito! Sabe, eu já joguei em vários países como Japão, França, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia, claro. E em todos os lugares eu sempre encontrava no rugby o mesmo tipo de pessoa. Não foi diferente no Brasil. Imediatamente há uma conexão. O rugby reúne os mesmos bons valores nas pessoas. Claro, percebi diferenças na estrutura e no ambiente, mas as pessoas do rugby por aqui são as mesmas. Todos têm sido muito bons, prestativos e generosos.

TR: Muitos países estão tentando desenvolver o rugby. Já Percebeu algum diferencial no Brasil, algo que possa nos ajudar neste processo?

TM: Todo o sucesso depende das pessoas. Se você tem boas pessoas, o caminho será mais fácil. Encontrei gente assim nos clubes que visitei e entre os atuais responsáveis pela CBRu (Confederação Brasileira de Rugby). Por isso, tenho certeza de que o sucesso em 2020 ou até mesmo nas Olimpíadas de 2016 virá pelo trabalho que está sendo feito agora. Não necessariamente da comunidade do rugby e dos jogadores, mas do suporte que vem por trás.

TR: Qual acredita ser a melhor forma para desenvolver o rugby no país do futebol?

TM: Temos de olhar para modelos como o do vôlei. Talvez o primeiro passo seja aparecer na TV. As pessoas precisam ver rugby. Ainda há muita gente na rua que não tem ideia do que é o esporte. Por isso, a exposição é fundamental, ainda que seja bem difícil durante os primeiros anos. Além dos clubes, visitei alguns projetos sociais e vi que há muito trabalho duro sendo feito, o que é ótimo para o desenvolvimento. Também gosto muito de uma ideia: as pessoas que assistirem ao rugby devem perceber que há uma grande diferença em relação ao futebol. Não no jogo em si, mas nas pessoas envolvidas. Há camaradagem, respeito ao árbitro, enfim, valores distintos.

TR: Em meio aos investimentos no alto rendimento e no trabalho dos clubes nas categorias de base, qual deve ser verdadeiro o foco agora?

TM: Manter as pessoas no rugby. O objetivo número um é fazer com que todos se sintam felizes e se divirtam jogando. Essa é a razão pela qual os brasileiros seguem jogando futebol. No rugby tem de ser igual. Se tentarmos transformar um garoto de sete anos em um campeão olímpico de rugby, ele vai parar de jogar aos 10. Ele precisa adorar o momento que entra em um campo de rugby. Tem que gostar de tacklear, de cair no chão e de tudo que faz o rugby único.

TR: Há uma diferença no desenvolvimento do Seven-a-Side para o rugby XV. Deve existir algum destaque para o Seven, modalidade que volta à Olimpíada?

TM: Não posso responder a esta pergunta, pois cada país tem seus próprios problemas e desafios. E tudo é muito diferente da realidade que vivo na Nova Zelândia. Então não posso afirmar que o Sevens deve ser o foco. Seria uma opinião precipitada. A verdade é que, enquanto os valores do rugby sejam cultivados, há espaço para crescer, seja no XV ou nos Sevens.

TR: O que o rugby de Canterbury e a experiência dos Crusaders podem trazer de bom para o Brasil?

TM: Fomos o melhor time por duas décadas, então sabemos bastante de estrutura. Temos uma ótima equipe de desenvolvimento de atletas. Quando um grande jogador nosso está se despedindo do esporte, outro está chegando. Além disso, é claro, trazemos muito conhecimento para vencer. É para isso que somos pagos.

TR: Não temos um bom retrospecto contra as seleções que estarão no Sul-Americano “A”. O que podemos esperar?

TM: Há um lado muito bom na história neste ano. Tanto Argentina como Uruguai devem fazer jogos contra as 10 melhores seleções do mundo em 2012. Portanto, o Brasil estará jogando contra alguns dos melhores atletas da atualidade. Temos um ditado na Nova Zelândia que diz que “os jogadores são tão bons quanto as competições que participam”. Os resultados devem ser duros, mas temos quatro anos para trabalhar até uma Olimpíada. Temos de pensar também em promover novos talentos e em escolher um plano de jogo compatível com o Brasil, que não seja uma cópia dos All Blacks. Talvez não façamos tantos jogos contra a Argentina hoje em dia, pois para eles não é uma partida dura. Mas isso vai mudar. A Argentina vai querer jogar muito mais vezes contra o Brasil.

TR: O que pode dizer sobre Scott Robertson e Brent Frew, futuros responsáveis pela seleção brasileira de XV? Foram suas primeiras opções?

TM: Trabalho pessoalmente com ambos e os escolhi para o trabalho. Brent Frew é um educador de treinadores na Nova Zelândia. Se um país quer desenvolver o rugby precisará de bons técnicos e ainda temos pessoas aqui que conhecem pouco sobre o esporte, pois não o estudaram a fundo. Robertson será o head coach e é simplesmente uma pessoa fantástica. Ele já foi um oitavo dos All Blacks, já ganhou título de Super Rugby e é um excelente treinador de fowards. Por isso, acredito que essa combinação vai ser muito boa. Minha primeira opção era o Aaron Mauger, mas ele está trabalhando como treinador e não poderia vir. Eu mesmo adoraria ficar, mas também estou treinando no Super Rugby e meu chefe já está me ligando…Eu só falo para ele: “mais um dia, só mais um dia”.

Foto: reprodução Phil Walter/Getty Images

Fonte:  Try Rugby